O poço
Era quase noite, o céu estampava uma cor acinzentada quase sem luz, no descampado horizonte se vê apenas a escuridão, então levantou- se e entrou na casa. Dentro não havia quase nada, apenas uma pequena cozinha com seus acessórios básicos, um quarto com uma cama e um minúsculo guarda- roupas e o banheiro bem simples.
Depois de se banhar fez uma refeição simples, uma sopa, foi se deitar.
Enquanto tentava dormir, pensava no seu dia, que era praticamente o mesmo a muito tempo, mas algo estava diferente, não conseguia dormir, isso o preocupava, pois teria que levantar- se logo cedo. As horas passavam rápido e sem perceber já passava das dez, foi então que de repente ouviu uma voz, uma suave e melancólica voz, concentrou- se para distinguir o que dizia, mas não conseguiu, levantou- se e foi até uma pequena janela com um lampião de querosene para iluminar, quando olhou pela fresta da janela viu uma mulher, cabelos longos e escuros, pele alva, estava descalça, não era possível ver seu rosto, então abriu a janela para distinguir melhor o que via e perguntar a moça o que ela fazia ali, mas quando ela se virou ele quase não acreditou no que via," não pode ser, é impossível ", pensou, fechou a janela e deitou novamente, inútil, não pregou seus olhos durante toda a noite.
Amanheceu, continuava acordado, aquele rosto, era algo demoníaco, algo que estava além da sua compreensão, mas por que nunca tinha visto ou ouvido nada antes? Quanto mais pensava mais ficava confuso, não foi trabalhar, ficou o dia todo dentro de casa, não conseguiu comer, nem se deu conta de que já havia anoitecido, nunca havia sentido medo antes, mas agora a noite lhe causava calafrios. O relógio se aproximava das dez, então seu medo aumentou, nunca havia rezado antes, mas agora pedia a todos os santos que aquilo não se repetisse, inútil, quando o relógio marcou dez em ponto, a voz se manifestou. Estava paralisado, não conseguia sequer mover seus lábios, não se moveu, mas agora a voz era mais alta e parecia mais próxima, tentou fechar seus olhos, mas foi inútil, ao olhar para a janela viu que a mesma estava aberta, "impossível, estava trancada", "o que está acontecendo?", estava cada vez mais confuso, então respirou e levantou-se devagar, foi a janela e viu a entidade, mas agora ela apontava para um velho poço desativado, resistiu, mas a voz penetrava seu ouvido, então saiu da casa e seguiu a entidade até o poço, suas pernas tremiam, suava frio, seus olhos quase expeliam lágrimas, mesmo assim seguiu em frente, então ao chegar no poço colocou seu lampião ao lado e decidiu tirar a cobertura, pegou seu lampião e tentou iluminar dentro do poço, não dava para ver muito além do meio, teria que descer," não, não posso fazer isso é loucura", pensou, mas a voz e a imagem persistiram, isso sim estava o enlouquecendo, voltou a casa refletindo no que estava prestes a fazer e agora pensava realmente estar louco, pegou uma corda e voltou ao poço.
Depois de tudo preparado amarrou a corda em volta da cintura, pegou seu lampião e desceu. Chegou ao fundo, estava seco, iluminou o chão, não havia nada, agora sim tinha certeza, havia enlouquecido. Mas ao virar- se para subir de volta, deparou- se com a entidade novamente, nesse momento quase morreu, sentiu seu coração parar por um segundo, mas antes que pudesse expressar qualquer reação caiu sentado e sentiu algo saindo da terra e o puxando para dentro dela, foi atraído como uma presa para uma armadilha, ao olhar para cima viu o poço se fechando e tudo ficou escuro, a única coisa que permaneceu foi uma voz suave e melancólica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário